sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Devaneios numa tarde de Orkut


Teka, vamos fazer um filme?

Claro, vamos sim.

Tá. Veja bem, no buddypoke, Yuri parece um cafetão de filme norte-americano com atores latinos...

Ótimo! Eu serei a meretriz de vestido vermelho justo cortado até o meio da perna esquerda a qual se encontra afivelada uma arma prata espelhada e salto alto, claro.

É! Você é a meretriz de vestidinho, batom vermelho, que dá pro cafetão e morre depois de uma cena de sexo selvagem; é a vida de atrizes que fazem uma ponta nos filmes. =D

Nossa, que triste realidade a minha... Pelo menos eu não sou a gorda-pega-ninguém do bar! Geralmente elas morrem primeiro...

É, sempre morrem por serem arrogantes!

Anhan! O vilão sempre passa por aquela portinhola de madeira, tira o chapéu, vai ao balcão e diz: “Hey woman, gimme the bear!” e *pá* um tiro na cara dela.

E quando alguém pede a conta elas sempre respondem “são cinco prataas” com voz de puta, cara de impaciente e mascando um chiclete.

*Risos*

Bom, a mocinha como sempre, vai começar chorando por alguma injustiça e o mocinho vai ajudá-la daí se apaixonam perdidamente.

Tá, e Yuri e eu somos o casal matador da história, sendo que ele é um cafetão, mas eu sou sua fixa, nele ninguém tasca! Barbinha faz parte da “granja” também e terá um caso com o mocinho que vai casar com a mocinha. Você será o vilão, dono de uma boca, então manda na porra toda e claro, estamos do seu lado! Além do mais, Yuri é o seu braço direito. Não podemos nos esquecer de Nina que também trabalha na “granja” de Yu. Abílio é um agregado que fará as cenas mais sórdidas, como por exemplo: se vender pra velhinhos nojentos e comprar drogas depois.

Ok, a mocinha será uma atriz contratada porque pelo visto, não temos meninas em nosso grupo que se encaixe no perfil. Petchola será a dona de algum putêro e fará concorrência comigo.

Certo, mas não podemos matá-la, seria um crime! Já que no fim tudo dá certo, vocês podem montar uma boca muito maior. Embaixo será boate, ponto de droga e em cima os quartinhos pras meninas de Yuri trabalhar.

E Rafa, irmã de Petchos será... A irmã da mulher do putêro que faz concorrência comigo!

Nossa! Surreal...

Né?

É.

E Natan, namorado de Petchos, será o homem de Petchos. Ele também é cafetão e fará concorrência com Yu, o que acarretará em richas entre as gurias dele e de Natan.

Show!

Podemos colocar Lucas no filme também, com uma metralhadora dando uma geral nos atores chatos do filme.

Somos chatos?

Não.

Bom saber.

Gilmar será o gigolô misterioso da história: ele costuma trabalhar sozinho, na surdina, na calada da noite. Além de ser o cacho de Lucas que é gay. Juntos farão um belo par de matadores homossexuais.

Massa!

Porra, por enquanto o filme só tem puta, puta, puta, venda de drogas, puta, Nina, mais puta e sem histórias de amor meloso com trilha sonora irritante.

Véi, o filme é nosso. Você queria que tivesse o que?

Rapaz, se entrar mocinha e um mocinho na trama, eu tenho certeza que levam bala na primeira cena.

Óbvio! E se o nome da mocinha for “Cindy”, eu queimo os mamilos dela com o meu cigarrinho sujo de batom antes de matá-la.

E o mocinho se chamará como? Robin? Kevin?

Nãão! Não há nada pior do que John! Todo filme meloso tem alguma cena em que acontece uma desgraça e quando a mocinha vai consolar o mocinho ela exclama um melancólico: “Ooh John...” e suspira.

Eca.

Mas relaxe, nessa hora eu apareço de vestido e botas de couro cano longo, puxo minha arma espelhada, dou uma retocada no batom e digo: “Ooh John é o caralho, minha filha!” e *Pá*, atiro nela.

Menos mal. E ah! Você tem razão quanto o “Robin” e “Kevin” são nomes pra filme adolescente que sempre faz o papel do virgem que nunca transou/beijou e interpreta as duas coisas ao mesmo tempo.

É.

E Beto será o psicopata que costuma tirar fotos das vizinhas que ele observa com o binóculo.

Tá.

Tá.

Luz, câmera, ação.


Túlio Barros e Terena Cardoso

terça-feira, 26 de agosto de 2008

E olha que nem foi em um "daqueles dias"...


05h40 da manhã, o despertador tocou. Teve vontade de desligá-lo imediatamente para dormir só uns dez minutos, mas infelizmente isso seria impossível já que naquele dia teria aula às 07h30 com um professor que insistia em um método de ensino totalmente decrépito, o que resultava em alunos sem a menor motivação para estudar.

Ignorando esse detalhe árduo e aceitando o fato de que “a motivação tem que vir de dentro”, levantou, escovou os dentes, tomou banho, vestiu uma roupa básica como de costume e saiu. Ligou o mp3 para abreviar o caminho (tinha a sensação de que o tempo passava mais rápido quando escutava música). Chegando ao ponto, começou mentalizar o seu ônibus: Estação Mussurunga viria vazio pois eram apenas 6:20h, então, dava para ir sentadinha da silva, na janela, sentindo o vento frio que só uma manhã de inverno pode proporcionar aos seu rosto e cabelos. Entretanto, não foi o que lhe ocorreu.

06h25min... 06h30min.. 35... E nada. 7h e o “buzu” ainda não havia chegado. “Que será que aconteceu pra essa bosta ainda não ter passado?”. Pelos seus cálculos iria chegar á Faculdade com 1h de atraso e o que ela menos queria, era dar o gostinho àquele jovem senhor chato que já tinha por costume adotar a ironia como defesa a críticas às suas aulas. “Que droga! o que faço agora?” enquanto pensava numa solução, percebeu uma “muvuca” atrás de si. “Oh não! Est. Mussurunga está vindo”. Era fácil perceber. Mesmo que você não estivesse olhando, quando aquele bendito ônibus estava por perto. Sendo o único para aqueles lados, o ponto enchia de tudo quanto era tipo de gente: estudantes, ambulantes, operários (que trabalhavam nas obras de condomínios luxuosíssimos da Av. Paralela, os quais eles jamais morarão um dia), senhoras, senhores, crianças melequentas, etc, etc...

“P***! não vai dar nem pra eu pôr um dos meus pezinhos aí dentro”. E de fato era fato. Ainda que corresse para tentar um lugar ao sol naquele transporte, este já vinha de lá lotadíssimo, era uma missão impossível. Pensando assim, teve a incrível idéia no momento em que avistou um Marback não muito lotado atrás do Estação: “vou pegar Marback, traseirar nele, e quando chegar na Estação Iguatemi, quando alguém for entrar, eu saio e pego um outro que esteja vazio no ponto de lá.” Ah, como ela era inteligente! Sentiu vontade beijar-se. Entrou no dito cujo feliz da vida e se uniu a outros companheiros de bordo que já traseiravam, uma vez que sabiam o quão aquele também demonioso coletivo lotava até pelo menos a FIB (Faculdade Integrada da Bahia).

O ônibus encheu tanto, mais tanto, que já não era preciso segurar nas poucas barras que tinham ali no pequeno espaço atrás da roleta. Se ficasse em pé, sem se segurar, a união dos corpos presentes junto ao seu daria o equilíbrio suficiente para manter-se paradinha.

Quando já estava próximo ao seu ponto começou a raciocinar o seguinte: “Isso vai dar merda. A p*** lotou tanto que ninguém vai querer entrar aqui, logo a porta não se abrirá, e eu não poderei sair! Drogaaa!” Realmente, cometera um erro que acabaria em um atraso maior, e pra piorar, o costumeiro engarrafamento que ela odiava naquele dia não estava ocorrendo, ou seja, teria menos tempo ainda para convencer o cobrador que havia tomado a condução errada ou algo do tipo, para não pedir que abrisse a porta na cara mais encerada do mundo.

O desespero foi tomando conta de si. O carro arrastando, o aperto das pessoas, ninguém no ponto estendendo a mão intencionada a entrar naquele buzu... Que foi quase no impulso que resolveu cutucar o cobrador, ou melhor, cobradora, para resolver sua situação. “Senhora, o meu ponto é aqui. Peça ao motorista, por favor, que abra a porta porque não tem condições eu passar por toda essa gente pra saltar aqui, né?” Para sua felicidade, um pequeno engarrafamento começou a formar-se, ótimo, teria mais tempo. “Porque você não passou antes?” Obteve de forma ríspida essa pergunta como resposta e só então analisou com quem estava falando.

Era uma senhora de meia-idade, aspecto severo e ignorante. De corpo era gorda e baixa. Tinha cabelos que um dia aparentaram serem lisos, pois agora o que restava no couro eram só uns fios negros velhos contrastando com os brancos na altura dos ombros. Passado seu devaneio momentâneo na tentativa de analisar o âmago mal-amado daquela mulher, percebeu que a mesma mantinha-se zangada e olhando para ela. Lembrou do seu atraso, da sua falta de vontade de ir à Faculdade, de não ter dormido bem aquela noite, o atraso do ônibus seguido de uma lotação freqüente em sua cidade e tudo o mais que estava lhe aborrecendo até aquele momento. A menina ergueu o dedo indicador de sua mão esquerda, os lábios contraindo formando um bico nervoso, os olhos a procurar dentro de sua mente as palavras certas. Apontou, mirou, e atirou:

“Escute aqui sua velha mocoronga! Sua... Sua... Praga do Egito! Um animal não merece ser tratado com tanta desfaçatez que dirás um ser humano! Onde já se viu... Esse aperto descomunal, esse cheiro horrível de suor e este abafamento insuportável! Saiba que essa jossa circula na cidade graças ao meu dinheiro, de todos aqui dentro incluindo você! A senhora está aqui, dentro deste veículo público para cumprir a sua função de manter-se calada e só fazer o necessário. Quanto a nós passageiros, deveríamos estar todos merecidamente sentados e chegar em nossos compromissos a tempo! Mas infelizmente, devido à uma política suja de opressores contra oprimidos e conformistas, não estamos! Então, quando eu ou qualquer um aqui dentro pedir por favor, para que abra essa maldita porta, tenha o mínimo de gentileza, se é que a senhora sabe o que é isso, e A-BRA A POR-TA.”

O rosto onde antes estava uma ligeira arrogância, agora se transformara em um verdadeiro mar revolto de aborrecimento estupefato. A mulher pegou uma das moedas do caixa e bateu três vezes na barra de ferro a sua frente (código entre cobradores e motoristas, onde o cobrador pede através do som da moeda em contato com o aço, para que abra as portas traseiras.) a porta se abriu e a garota pôde sair para o “delírio” da galera que gritava jargões urbanos do tipo “issaêê moçaa, sou mais você! Meu voto é seu, uhuull!”

Fim.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Uma camera: perfect basic clip


Provável diálogo (
"abrasileirado") entre Tony Petrossian (diretor do videoclip) e Serj Tankian (vocalista):

T - Serj, seguinte... Tu começa a tocar o piano, fingi que não tá sendo filmado e tals... Depois levanta, vai andando e começa interagir um pouco com a cam, dá uma paradinha, contempla o céu... Em seguida pega aquela porra ali no chão, faz umas peripécias lá em cima, outras pra cam e joga a porra longe... E ah! não esquece de fazer aquelas caras de "boneco de pau" que só você sabe, pra "descontrair", ok?

S - Ok, ok...

T - Depois segue andando, olhando pra cam e cantando daê pára no piano e olha pra baixo; vamo fazer um contra-plongê bem legal pra finalizar e o telespectador visualizar o que vai tá escrito no céu quando tu sair de cena. Sacou tudo, man?

S - Tudo certo...

T - Issaê garoto! Bora lá pessoal, todos prontos? é uma tomada só! sem cortes... Luz?! Camera?! Ok right, ACTION!


domingo, 24 de agosto de 2008

Babel, O Filme



Na tentativa de explicar os diferentes idiomas existentes na humanidade, povos antigos atribuíram essa diversidade à torre de Babel – um mito que segundo o Antigo testamento, os descendentes de Noé construíram na Babilônia uma torre tão alta que pudesse alcançar o céu. Tal soberba provocou a ira de Deus que para puni-los, confundiu-lhes os idiomas e expandiu por toda a terra. No filme “Babel” de Alejandro González-Iñárritu, os personagens de Brad Pitt e Cate Blanchett lutam contra esse problema e tantas outras adversidades culturais quando uma lamentável intempérie acontece.

Susan e Richard estão viajando pelo Marrocos em um ônibus de turismo quando de repente um tiro é disparado contra Susan. Ninguém sabe de onde veio ou porque veio. Desesperado, Richard pede para que parem o ônibus; sua mulher sangra descontroladamente e ele teme perdê-la. Seguindo os conselhos do guia turístico eles a levam para uma pequena casa em uma vila no meio do deserto e esperam por socorro. Depois de muitos telefonemas, a embaixada estadunidense revela que não será possível a vinda de uma ambulância marroquina por suspeita de um ataque terrorista, somente um helicóptero direto dos EUA, e este iria demorar. Cedendo à situação desesperadora em que se encontravam, Richard entregou sua mulher nas mãos de um veterinário da região que esterilizou uma agulha com um isqueiro e costurou o ferimento para que sua esposa parasse de sangrar, senão iria morrer.

Perdidos no meio do nada, enfrentando as caras mal humoradas dos passageiros do ônibus (que não esperaram muito tempo e logo foram embora) com apenas uma pessoa que falasse inglês, foi possível a compreensão de um sentimento mútuo entre “gringos” e marroquinos. Através do olhar e energia, Susan teve força necessária para sobreviver cada minuto de dor e esperança, ainda que algumas vezes se demonstrasse arredia a qualquer estranho que a tocasse ou tentasse lhe ajudar.

Mas o filme não pára por aí, todo esse sofrimento é provocado por um “efeito dominó” que se mostra em um tempo não cronológico: um ex-caçador japonês deu sua arma a um marroquino, que a vendeu para um conhecido da região, que entregou aos seus filhos (ainda crianças), para estes matarem os chacais que costumavam comer suas cabras. Numa brincadeira de descobrir até quantos Km alcançava o disparo da arma, os garotos atiraram contra um ônibus de turismo que passava na estrada. Dias após, descobriram por boatos que tinham “matado” uma americana.

O ex-caçador tem uma filha surda-muda que sofre com a exclusão social em sua adolescência. O marroquino que comprou a arma tem filhos incestuosos e os filhos de Susan e Richard passam por maus bocados nas mãos da babá mexicana e residente ilegal nos EUA, Amelia, personagem de Adriana Barraza.

O enredo decorre pelo eixo sócio-cultural com ênfase em Marrocos, Estados Unidos e México. Questões como viver em um país ilegalmente, terrorismo e pré-conceito são o tempero desse Filme imperdível.

Essa trama nos faz pensar se não foram as diferentes línguas (as quais não sabemos ao certo suas origens) que distanciaram as mais distintas raças no mundo inteiro, ao mesmo tempo em que nos compreende o fato de independentemente disso, todos somos iguais. E na hora da precisão, do aperto, do desespero... O entendimento de algo abstrato é recíproco quando há laços invisíveis que nos une à uma única razão.