segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Deixem minhas tranças em paz, pow!

Que coisa... Ultimamente tenho falado tanto de minha adolescência, nem eu mesma sei porquê, mas, voilá!

Desde os meus doze anos eu sou respondona. Decidi que ninguém nunca me diria algo que eu não concordasse e não recebesse em troca uma contestação de minha parte e isso sempre incluiu meus avós. Quem disse que “respeite os mais velhos” cabia na minha língua afiada? Eu digo “cabia” porque hoje é um pouquinho diferente, porém, às vezes perco o controle e tenho vontade de oferecer um delicioso chá de sumiço à minha avó.

A relação dos meus avós nunca deram certo. Corre a lenda na família que a culpa é do meu avô por ele ser agressivo, autoritário e um monte de “blá blá blás”. Só que algumas atitudes de minha avó me levam a crer que essas brigas constantes não começam geralmente da parte dele, digo isso sem muita certeza porque o que me levou a escrever este texto foi uma pequena discussão entre minha mãe e minha avó, que nada tem a ver com casos de marido e mulher.

Tudo começou quando decidi trançar os cabelos. Meu pai ficou numa excitação só, o danado é chegado nas origens afro, sabe? Me deu dicas e sugestões, enfim, adorou a idéia e eu, já decidida, fui mais a fundo na minha vontade. No começo, confesso, achei um pouco estranho e até mesmo feio. Mas depois, na frente do espelho inventando moda, comecei a me achar maravilhosamente linda, principalmente por conta do detalhe dos dreads na cor vermelha! Nossa tava “me achando” mesmo.

Mas aí, à noite, chegou a minha mãe. A primeira coisa que ela disse foi:

“meniiinaaaa o que você fez neste cabelo?”

Eu: trancei, ué

Ela: isso vai estragar o seu cabelo, ele vai ficar horrível, aliás, você está horrível!

Eu (já espantada): você está exagerando!

Ela: ah é?! Deixe você procurar um emprego! Quem for bonzinho pode até lhe dar, mas mandará você tirar isso do cabelo! Fora que você perdeu o seu valor, tá feia!

Eu: vá procurar o que fazer minha mãe, me deixe em paz! Além do mais, eu ponho meu valor onde eu quiser, e não é nos cabelos que ele está!

Ela: você vai ver!

Fim do primeiro round. No decorrer das semanas tudo se saiu muito bem! Estava convicta de que minha mãe havia deixado meus cabelos de lado e até estava se acostumando com a novidade, até que um dia...

Ela: menina, você já lavou esse cabelo?

Eu: não.

Ela: deve tá uma “inhaca”, nesse calor!

Ok, respirei fundo e fingi que não ouvi nada. Eu ia realmente lavar os cabelos, mas a preguiça me consumia e também, eu sabia que se lavasse, as pontas quebradiças iriam subir e estragar o penteado. Então, hoje, eu resolvi que as tiraria quando voltasse de uma prova final que teria de fazer na faculdade, foi quando encontrei, na volta, em casa, a minha avó.

Ela: meniiiinaaa (porque elas sempre começam assim?) o que você fez no cabelo?!

Eu: nada. (sério, não queria me aborrecer mais.)

Ela: ta horrível! Parece aquelas pretinhas da liberdade...

Eu: (ESPANTADÍSSIMA) meu deus! Onde eu estou? Num casarão de açúcar?! Poorraaa...

Ela: tire isso! Não quero que você viaje assim pra o natal!

Eu: pois, fique sabendo que eu ia tirar hoje, mas só por causa de seu comentário absurdo eu não vou tirar!

Minha mãe: poizé mainha! Agora ela colocou essas porras no cabelo e anda desfilando por aí achando que está linda e ainda nem lavou esse cabelo.

Eu: vocês duas são terríveis! Uma pinta os cabelos pra esconder os fios brancos e a outra só vive relaxando pra parecer liso, ora, me deixem em paz!

Minha revolta foi tão grande que minha vontade era de por um monte de dreads e tranças sintéticas só por pura provocação! Entretanto, meus cabelos precisavam mesmo serem lavados, por isso, decidi que quando elas saíssem de casa eu tiraria e lavaria.

Com a ajuda do meu namorado, começamos a destrançar os fios... Nossa que perrengue, viu! Meu cabelo caiu pacas, na hora de lavar então nem se fala! Dei uma super hidratação, penteei com todo amor e carinho e agora estou aqui, com o cabelo novinho em folha, um pouco maior do que era e até... Hum... Mais bonito do que antes! (risos)

Horas depois chegou a minha avó. Eu preferi sinceramente falar numa boa com ela, e fingir que nada havia acontecido. Nem olhei pra ela, fui entrando na sala e falando:

Eu: e aí vó? Tava lá fofocando na casa da sua irmã né?

Ela: eu não sou de fofocas. (e olhou direto para meus cabelos, fingi que nem vi isso.)

Depois, baixinho, como quem estivesse rezando, ela disse: graças a deus, graças a deus ela tirou essas coisas horrorosas do cabelo... Eu juro que fiquei POSESSA!

Eu: PORRA MINHA AVÓ! Respeite as minhas vontades! Eu gosto de tranças, eu gosto da cultura afro! Eu gosto de toda a história deles, e quer saber?! Se olhe no espelho, a senhora é uma tremenda negona do bundão! – e saí com a maior cara de emotion feliz.

Ela (altamente assustada): não sei o que deu em você, nunca vi você falando assim comigo, eu só quero te ver bonita! Vou dizer a sua mãe! (como se isso fosse resolver alguma coisa)

Pra terminar essa história já longa por demais, ela não falou absolutamente nada com a minha mãe, e ainda que falasse ela não iria fazer nada.

Por fim, não preciso articular minhas opiniões com formalidades já que, implicitamente e um tanto nervosamente, estão aí. É O FIM ter que ouvir coisas como “você perde o seu valor” ou “você está parecendo as pretinhas da liberdade” ou “esquente os dedos e passe no nariz pra afilar ele” ou sei lá o que.

Não importa que seja mãe, pai, ou avós! Isso é um absurdo e não tenho que ouvir esses despautérios de ninguém. Não peço elogios, só que me respeitem. E diante de tanto conhecimento que venho adquirindo com minhas experiências, sei que mesmo tendo a idade que têm, elas sabem que essas opiniões são ridículas, mas, simplesmente as ignoram, não absorvem nada, porque as informações em excesso junto ao entretenimento vazio idiotizam as pessoas por completo.

5 comentários:

raai. disse...

eu tinha amado suas tranças *-*

achei que do jeito que você tinha colocado era pra ficar bastante tempo e tal. Enfim, eu queria colocar também, acho mo lindo e tal e sou negra sim, embora não pareça -por ser quase transparente por conta de ser desprovida de melanina- eu sou negra, ok, todos somos, porque principalmente aqui no Brasil é uma mistura que só. Mas eu tenho um cabelo que não me deixa mentir, e um pai também \o/
Mas repensei depois que você citou a coisa do lavar :x
Mas quem lava todo dia pode por?
;*

Alter Ego disse...

Ah, não cheguei a ver suas tranças. Tipo, é uma pena algumas pessoas valorizarem mais o que a gente veste/tem do que realmente podemos ser na sociedade. Mas eu digo não só pelo cabelo, falo também de tatuagem, piercing, alargadores, enfim...às vezes tais 'modificações' que talvez diga uma parte do que somos (mas no sentido de estilo e não por assim genaralizar, por exemplo, toda pessoa que possui tatuagem é "maconheiro" e por ai vai) e não um todo, somos mais que um cabelo ou uma roupa, nossos valores vão bem mais do que isso.
Eu vejo isso aqui em casa as vezes, ninguém recrimina a tal ponto como aconteceu com você, mas tem aquela cara de 'nossa, por que você fez isso?) por eu ter alargador...por eu pintar o cabelo de tal forma, mas enfim. Infelizmente isso não é a primeira vez e nem vai ser a ultima, só espero que se amenize com o passar do tempo.

meus instantes e momentos disse...

Muito bom o post. Muito bem escrito, bem feito.
Parabens, gostei daqui.
Tenha um feliz domingo.
Maurizio

Luana Marinho Nogueira disse...

"diante de tanto conhecimento que venho adquirindo com minhas experiências"

o jornalismo e o fato de estar
morando em Salvador tem me ensinado coisas q eu jamais
pensaria. Coisas q ultrapassam
o âmbito do conhecimento
para construir uma postura
de maior respeito com as
outras culturas.

E quer saber, se eu tivesse coragem,
eu faria trancinhas!
acho lindooo

Anônimo disse...

A sociedade atribui valores negativos aos elementos da cultura afrodescendente. Isso é fruto de um pensamento racista herdado da época de Brasil colônia que foi profundamente imbutido na cultura brasileira ao longo dos tempos.
Às vezes o preconceito não é tão escancarado como foi em seu caso, mas muitas vezes está lá, nas mentes das pessoas, inconsciente.
Em minha opnião, tranças e dreads são lindos. Valorizam o cabelo crespo, dão cor, forma, personalidade.

E para finalizar meu comentário, aqui vai uma letra de música do mestre Chico César que me lembrou muito o título do seu post.

Respeitem meus cabelos, brancos
Chegou a hora de falar
Vamos ser francos
Pois quando um preto fala
O branco cala ou deixa a sala
Com veludo nos tamancos

Cabelo veio da áfrica
Junto com meus santos

Benguelas, zulus, gêges
Rebolos, bundos, bantos
Batuques, toques, mandingas
Danças, tranças, cantos
Respeitem meus cabelos, brancos

Se eu quero pixaim, deixa
Se eu quero enrolar, deixa
Se eu quero colorir, deixa
Se eu quero assanhar, deixa
Deixa, deixa a madeixa balançar