sábado, 6 de dezembro de 2008

O que eles têm a ver com a gente?

Sim, minha mãe é incrível. Dobra-se em vinte mil e quatro pra dar conta de tudo da casa e ainda tem tempo pra estudar. Meu pai, eu já não posso dizer o mesmo, mas por vias circunstanciais... É... “prefiro não comentar”. O bom é que desde os meus primeiros minutos de vida, nada me faltou.

Demorou, mas eu entendi o quão eles foram importantes. É, sim, os dois. Cada um à sua maneira me ensinou coisas incríveis, como noções de sobrevivência humanitária. Seja pelos seus erros, ou tentativas de acertos e os acertos, foram fundamentais em minha vida e continuam sendo.

Costumo dizer sempre que aproveitarei o máximo a casa deles. Claro, vou trabalhar uns seis anos às custas de luz, água e comida pagas pela minha mãe, tendo que aturar somente o cigarro chato do meu pai que impregna as minhas coisas. Isso é o de menos considerando que, se fosse sair de casa assim que arrumasse um “trampo”, teria que pagar tudo isso o que levaria com certeza, mais da metade do meu salário. Vou contar um segredo: nem a ração do meu cachorro eu compro, quanto mais os meus absorventes.

E sabe, eu tenho (quase) certeza de que eles não andam desejando (pelas minhas costas) que eu, um dia, vá embora. E tenho a nítida sensação de que quando minha mãe reclama das minhas roupas em cima da cama, ela não fala sério quando diz “quando você casar, Yuri não vai arrumar suas roupas não, viu?!” eu tenho quase certeza de que lá no fundo (beeeem fundo) ela quer dizer “filha, não saia de casa cedo porque você não vai ter mais sua mãe pra arrumar suas roupas”. Não mostrem esse post pra ela, por favor.

Melhor mãe do mundo, melhor pai do mundo, que importa isso agora? É bom que olhemos o quanto eles tentam ser legais. Ás vezes, e eu sei do que estou falando, é impossível perceber que eles só tentaram acertar, desde o início. Mas eles tentam, até quando ultrapassam as linhas que distanciam a vida deles das nossas.

Sim, porque existe uma linha, isso é óbvio. E para mim, é inadmissível quando eu ouço “meus pais pagam minhas contas, me sustentam, por isso precisam saber que sou gay/bi.”

Não, eles não precisam saber de nada. E o certo seria ter um interesse apenas curioso a respeito disso. Juro que só contei à minha mãe que perdi a virgindade porque estava na hora dela saber. Na hora dela saber que a filha já fazia uma coisa que ela temia, há muito tempo. Então, pra que ficar na neurose sempre que eu fazia mais um ano de vida? Neste caso, sim, ela merecia saber. Para se tranqüilizar. E se tranqüilizou. Graças a Deus.

Só que de nada adianta simplesmente, como se tira uma mesa, contar para os pais a respeito de sua sexualidade. Para que? Por quê? Pais ainda são seres de outros anos, dominados por uma cultura machista pertinente, ou seja, os meninos se fodem se prejudicam muito mais contando suas aventuras sexualescas. É simplesmente pedir pra sofrer tentando impor a sua personalidade e desejos, o que eu considero bastante desnecessário.

Hoje, ainda bem, esse assunto já é discutido com mais clareza, mas lógico, ainda existe preconceito (odeio essa palavra e todos os assuntos atribuídos a ela) então porque querer impor isso às pessoas que te querem bem?

É complicado, eu sei. Porém, eu sugiro o método da “desconversa”

-Filho, você é gay?

-Ahn? Pô, mãe, aumenta a TV tô ouvindo nada! Que cê falou?

-Nada.

Ok, antes fosse assim. Mas vocês entenderam.

Para encerrar, só quero dizer que: não destruam tudo aquilo que foi construído antes de você nascer, porque creia, é importante para eles. Eles planejam e sonham com você. E mesmo que nada possa ser realizado, ao menos respeite isso. Não bata de frente, não brigue, não discuta, não diga coisas para horrorizá-los, muito menos deixá-los com o “pé atrás” com você. Pra que? Pra ser renegado? Pra ter as regalias dentro de casa cortadas? Mesmo que eles não signifiquem nada parecido com o que você considera ser um pai, ou uma mãe, para que desgastar-se com pessoas que não vão lhe entender? E mais uma vez, eu lhe pergunto, que necessidade há de impor sua personalidade, suas crenças e obstinações às pessoas? Ainda que essas sejam seus familiares? Absolutamente nenhuma.

Entendam, assim como um dia eu entendi, que pais aprendem a ser o que são culturalmente, portanto, um dia, eles podem deixar de existir do jeito que são. E talvez, faça falta. Muita falta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Rpz... Não concordo com algumas coisas, até pq familias são diferentes das outras. A ação deve ser de acordo com cada uma, eu mesmo não ajo desse jeito. É aquela coisa: Analise bem o momento pra não tomar uma na cara.

Ramon Santana Smith disse...

O que eles têm a ver com a gente?
Acho que tudo...realmente, a gente só dá o real valor depois que perde :(
Curtir, tentar resolver os problemas, chorar, devemos fazer isso todos os dias com que nos importamos e com quem se importa com a gente, esses momentos são únicos e mágicos!