sexta-feira, 20 de março de 2009

Quem é a sua Maria louca?

Todo mundo tem um louco. Geralmente morador de rua, anormal, excluído socialmente, que de alguma forma meche no seu âmago em algum momento do seu dia. Eu havia esquecido o meu. Mas Edgard Navarro fez o favor de me lembrar que ele existiu, quando lançou o filme “Eu me lembro”.

O meu era homem. Um João louco. Lembro-me quando era pequena e minha avó me levava à casa dos meus primos para brincar, enquanto ela fofocava com a irmã. No meio do caminho tinha um louco que dizia que eu era filha dele. Eu simplesmente o odiava. Ele era grande, barrigudo, desdentado e... Louco. Toda vez que me via armava a maior festa e dizia com todo fervor “minha filha!”. Só deus sabe o quanto desejei seu sumiço.

Daí, um belo dia, ele sumiu... E caiu no meu baú de infância. Nunca mais me lembrei daquele ser diferente que sabe-se lá porque, identificava em mim alguma filiação. Loucura total. Nunca senti falta dele, sentia mesmo era um desconforto, revolta, por ele ousar a se achar meu pai. Roubar o lugar do meu genitor, referência principal para mim na época.

Devo confessar, de vez em nunca me recordava dele, deitado no passeio em frente á uma padaria de lajotas vermelhas. Sem camisa, cabelos emaranhados, descalços e com aquele ar outside que só os loucos têm. Entretanto, antes de cair no esquecimento definitivo, quando completei uns 15 anos ele reapareceu. Um pouco mais velho, cabelos brancos, mas com a barriga enorme de sempre. Eu estava passando com a minha avó pelo mesmo local da época infantil, quando ele gritou “MINHA FILHAA!” abrindo os braços com o maior sorriso amarelo desdentado. (ele não esperava que eu fosse abraçá-lo né?) Creio que ele só me “reconheceu” por causa da minha avó, que não muda a aparência nunca. Ou talvez, até tenha se lembrado de mim, sei lá.

Ás vezes me questiono se sou tão louca quanto ele, pois, até hoje sinto aquele desconforto idiota de repugnância com o homem. Um ultraje mesmo. Esse fato impregnou tanto no meu ser, que me pergunto se não fui filha dele em alguma encarnação. Talvez tenha sido mesmo, num mundo em que só ele entendia e onde só ele me via, porque eu, o terei sempre como o homem feio, sujo, fedorento e louco, que dormia num passeio em frente a uma padaria que já não existe mais.

5 comentários:

Lucas Franco disse...

Você não vai gostar do meu comentário, mas esse cara de alguma forma é tão especial para você que mereceu uma postagem só para ele no seu blog, hehe. Brincadeiras a parte, investigar os motivos da ação de um louco é como ser destro e ter de fazer um gol de penalti com a perna direita machucada. A reflexão não está nos motivos que levaram ele a agir assim, e sim na condição humana, de crenças, nas quais nem todas são compatíveis com as crenças coletivas, e nem com o que chamamos de 'real', que foi fantasioso ontem e agora é realidade ou vice-versa. Deixe eu para de escrever aqui se não eu vou virar o segundo 'joão louco', e não quero um posto para mim, hehe. =P

News Times disse...

tekaaa te add ai é lORENA...

maria e as baleias disse...

hehehe.
eu tenho pena dessas pessoas. especialmente aqueles doidos que vivem na rua da piedade dos outros, sabe? e, por incrível que pareça, eles vivem muito bem sim, melhor do que os que estão na rua só por serem necessitados e não... louco. aí eu tenho mais pena ainda de todo mundo.
em jaru, rondônia (pertinho da casa do meu pai) tem um louco que há anos não sai de um canteiro da rodovia pra nada, ele só fica alisando as casas de cupins que tem lá. ele joga água, alisa uma e mata ela, aí surge outra do lado e ele faz a memsa coisa, e de novo e de novo, todos os dias, há anos. e ganha comida e roupa lavada.
colé, essa vida está mais fácil que a minha!!!


p.s.: vc faz duas faculdades??? Oo

Unknown disse...

É bem complicado saber o que fazer em situações assim. Continue postando, gostei de seus posts!

Alter Ego disse...

Nunca parei pra pensar sobre isso, gente! Realmente!
Eu acho que uma vez eu escrevi algo sobre isso também, sobre ser louco, às vezes ser louco é saudável, nossa, que contraditório, mas não digo a loucura - pensamentos "anormais", mas deixar sobressair aquele "louco interior" que existe em todos nós. Mas isso não tem a vê com o seu post, humm... acho que nunca tive um 'louco' desse tipo em minha vida, mas já vivi muita fantasia criada por mim mesma, até hoje, às vezes, estou nela .

ps. não se importe, só um toque
meXer , ok? ;)